Polatuzumabe associado à quimioterapia de alta intensidade para linfomas não-Hodgkin B agressivos
Pola-R-DA-EPCH tem perfil de segurança aceitável e semelhante aos resultados publicados do regime padrão R-DA-EPOCH, sendo um regime com bom potencial para o tratamento de linfomas não-Hodgkin B agressivos
Por Germano Glauber de Medeiros Lima
O tratamento de linfomas não-Hodgkin B de alto grau ainda é uma necessidade médica não atendida. O clássico regime R-CHOP (rituximabe, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona) ainda falha em gerar boas respostas no tratamento desses pacientes, sendo comumente substituído pelo regime R-DA-EPOCH (etoposídeo, prednisona, vincristina, ciclofosfamida, doxorrubicina e rituximabe) em situações como linfoma de células B de alto grau com ou sem translocação MYC/BCL-2 e/ou BCL-6, além de linfoma primário de células B do mediastino.
Polatuzumab vedotina (Pola) é um anticorpo monoclonal anti-CD79b conjugado com a medicação monometil auristatina E, que tem função danosa a microtúbulos. Pola já mostrou atividade como monoterapia e em combinação para tratamento de linfomas de células B recidivados e refratários, incluindo linfomas difusos de grandes células B. No estudo de fase 3 POLARIX, recentemente publicado, o acréscimo de Pola no lugar da vincristina, finalizando na criação do regime Pola-R-CHP, mostrou superioridade deste regime em relação ao braço do R-CHOP em relação a sobrevida livre de progressão (PFS) em 2 anos (HR, 0.73 por regressão de Cox; IC 95%, 0.57-0.95; P = .02). No entanto, o número de pacientes com linfomas não-Hodgkin B de alto grau neste estudo foi pequeno, e, portanto, pouco informativo e relevante estatisticamente.
Foi desenvolvido, então, um ensaio clínico de centro único em Seattle-EUA, aberto, prospectivo, de Pola-R-DA-EPCH em linfomas agressivos de grandes células B. O desfecho primário foi a estimativa de segurança do Pola-R-DA-EPCH conforme medido pela taxa de toxicidades limitantes de dose (TLDs) nos primeiros 2 ciclos com regras de suspensão de protocolo pré-especificadas. Os desfechos secundários e exploratórios incluíram eficácia e correlação com DNA tumoral circulante (ctDNA).
Entre 28 de outubro de 2020 e 20 de novembro de 2021, 18 pacientes foram incluídos no estudo. Com apenas 3 TLDs observadas, o estudo atingiu seu objetivo primário de segurança. Houve 5 eventos de efeitos adversos graves, incluindo neutropenia febril de grau 3 (3, 17%), perfuração colônica de grau 3 num quadro de diverticulite e um evento de sepse/tiflite grau 5. A substituição da vincristina por Pola não pareceu afetar a capacidade de escalonamento de dose da quimioterapia além do nível 1.
Entre 17 pacientes avaliáveis para resposta, a melhor taxa de resposta geral foi de 100% e a taxa de resposta completa foi de 76%. Com uma mediana de seguimento de 12,9 meses, a sobrevida livre de eventos em 12 meses foi de 72% e a sobrevida global foi de 94%. Foi encontrado ainda que aqueles pacientes que tinham ctDNA ao final do tratamento apresentavam risco significativamente maior de recorrência, enquanto que entre aqueles com ctDNA indetectável ao final do tratamento não houve nenhuma recaída até o final do seguimento. Esse achado levanta a hipótese de que a análise de ctDNA poderá ser uma ferramenta chave para decisões terapêuticas no futuro, onde poderão ser detectadas recidivas precoces ou pacientes com alta chance de recidiva.
O uso do Polatuzumabe para substituir a vincristina no regime R-DA-EPOCH atingiu o desfecho primário de sua segurança desejado. Conforme os autores do trabalho, esses dados apoiam a avaliação e utilização adicionais desta abordagem em histologias agressivas de linfomas não-Hodgkin B, onde o benefício potencial de um regime intensificado e do Pola pode ser desejado. Estudos mais robustos, com comparação direta e com objetivo primário de eficácia clínica, ainda são necessários para a introdução do regime Pola-R-DA-EPCH na prática clínica, no entanto, este regime parece promissor para pacientes com uma necessidade médica ainda não atendida.
Referência:
- Lynch, R. C., Poh, C., Ujjani, C. S., Warren, E. H., Smith, S. D., Shadman, M., Morris, K., Lee, S., Rasmussen, H., Ottemiller, S., Shelby, M., Keo, S., Verni, K., Kurtz, D. M., Alizadeh, A. A., Chabon, J. J., Hogan, G. J., Schulz, A., Gooley, T., Voutsinas, J. M., … Gopal, A. K. (2023). Polatuzumab vedotin with infusional chemotherapy for untreated aggressive B-cell non-Hodgkin lymphomas. Blood advances, 7(11), 2449–2458.
- Tilly H, Morschhauser F, Sehn LH, et al. Polatuzumab vedotin in previously untreated diffuse large B-cell lymphoma. N Engl J Med. 2021.