Ibrutinibe combinado com imunoquimioterapia com ou sem transplante autólogo versus imunoquimioterapia e transplante autólogo em pacientes previamente não tratados com linfoma de células do manto – resultado do estudo randomizado de fase 3 TRIANGLE
Estudo randomizado de fase 3 TRIANGLE mostrou que a adição de ibrutinibe ao tratamento de primeira linha em pacientes mais jovens com linfoma de células resultou em eficácia superior, com toxicidade aumentada quando administrado após o transplante autólogo de medula óssea
Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima
O linfoma de células do manto (LCM) continua sendo um subtipo desafiador de linfoma não-Hodgkin devido ao curso clínico amplamente variável. Estudos recentes sugerem que a adição de ibrutinibe à imunoquimioterapia padrão pode melhorar os resultados e desafiar a necessidade de transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (TCTHa) em pacientes mais jovens (65 anos ou menos).
O estudo apresentado teve como objetivo investigar se a adição de ibrutinibe resulta em eficácia clínica superior em comparação com a imunoquimioterapia com TCTHa ou um tratamento contendo ibrutinibe sem TCTHa. Também foi investigado se o tratamento padrão com TCTHa é superior a um tratamento que adiciona ibrutinibe, mas sem TCTHa.
O estudo aberto, randomizado, de três braços, grupos paralelos, de superioridade, TRIANGLE, foi realizado em 165 centros clínicos secundários ou terciários em 13 países europeus e em Israel. Pacientes previamente virgens de tratamento com LCM em estágios II-IV, com idade entre 18 e 65 anos e candidatos a TCTHa foram aleatoriamente designados 1:1:1 para o grupo controle (grupo A) ou grupos experimentais (A+I ou I).
O tratamento no grupo A consistiu em seis ciclos alternados de R-CHOP e R-DHAP (ou R-DHAOx) seguido por TCTHa. No grupo A+I, ibrutinibe (560 mg por via oral todos os dias) foi adicionado nos dias 1 a 19 dos ciclos de R-CHOP e como manutenção de duração fixa
(560 mg por via oral todos os dias durante 2 anos) após o TCTHa. No grupo I, o ibrutinib foi administrado da mesma forma que no grupo A+I, mas o TCTHa foi omitido.
Entre 29 de julho de 2016 e 28 de dezembro de 2020, 870 pacientes (662 homens, 208 mulheres) foram randomizados para grupo A (n=288), grupo A+I (n=292) e grupo I (n=290). Após 31 meses de acompanhamento mediano, o grupo A+I foi superior ao grupo A com sobrevida livre de falha em 3 anos de 88% (IC 95% 84–92) versus 72% (67–79; hazard ratio 0,52 [IC 98,3% 0–0,86]; p=0·0008). A superioridade do grupo A sobre o grupo I não foi demonstrada com 3 anos de sobrevida livre de falha de 72% (67–79) versus 86% (82–91; hazard ratio 1,77 [IC 98,3% 0–3,76]; p=0,9979).
A comparação do grupo A+I versus grupo I está em andamento. Não houve diferenças relevantes nos eventos adversos de grau 3–5 durante a indução ou TCTHa entre pacientes tratados com R-CHOP/R-DHAP ou ibrutinibe combinado com R-CHOP/R-DHAP. Durante a manutenção ou acompanhamento, houve substancialmente mais eventos adversos hematológicos de grau 3–5 e infecções foram relatadas após TCTHa mais ibrutinibe.
Os autores concluem que a adição de ibrutinibe ao tratamento de primeira linha resultou numa eficácia superior em pacientes com LCM mais jovens, porém com toxicidade aumentada quando administrado após TCTHa. Adição de ibrutinibe durante a indução e como manutenção deve fazer parte do tratamento de primeira linha de pacientes jovens com linfoma de células do manto. O papel do TCTHa nesse contexto ainda é questionável, e estudos posteriores deverão esclarecer essa questão.
Referência:
1) Dreyling, M., Doorduijn, J., Giné, E., Jerkeman, M., Walewski, J., Hutchings, M., Mey, U., Riise, J., Trneny, M., Vergote, V., Shpilberg, O., Gomes da Silva, M., Leppä, S., Jiang, L., Stilgenbauer, S., Kerkhoff, A., Jachimowicz, R. D., Celli, M., Hess, G., Arcaini, L., … Hoster, E. (2024). Ibrutinib combined with immunochemotherapy with or without autologous stem-cell transplantation versus immunochemotherapy and autologous stem-cell transplantation in previously untreated patients with mantle cell lymphoma (TRIANGLE): a three-arm, randomised, open-label, phase 3 superiority trial of the European Mantle Cell Lymphoma Network. Lancet (London, England), 403(10441), 2293–2306. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)00184-3