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Estudo MajesTEC-1: teclistamabe como alternativa no tratamento do Mieloma Múltiplo refratário ou recorrente

Além da terapia com células CAR-T no tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário

Escrito por: Caroline Ishihama Suzuki

Revisado por: Dálete Barcelos 

MajesTEC-1, um estudo de fase I-II, mostra eficácia na utilização do anticorpo biespecífico teclistamabe em pacientes com mieloma múltiplo refratário ou recidivado. 

O tratamento padrão do mieloma múltiplo inclui agentes imunomodulatórios, inibidores de proteassoma e anticorpos anti-CD38. Entretanto, muitos pacientes apresentam refratariedade ao tratamento ou acabam recidivando. Neste cenário, agentes visando a proteína BCMA, presente nas células do mieloma, ganharam grande notoriedade, devido aos resultados promissores proporcionados. Assim, três produtos anti-BCMA foram aprovados, sendo um conjugado droga-anticorpo e dois produtos com células CAR-T.

Apesar da mudança do cenário do tratamento do mieloma múltiplo com o surgimento das células CAR-T, existem ainda limitações para o uso dessa terapia, como a elegibilidade dos pacientes, a segurança e o acesso ao tratamento.

Foi desenvolvido, então, o teclistamabe, um anticorpo biespecífico anti-CD3 e anti-BCMA simultaneamente. O produto funciona redirecionando os linfócitos T CD3+ às células do mieloma BCMA+, resultando na ativação dos linfócitos e consequente lise e morte das células BCMA+.

O estudo de fase I MajesTEC-1 identificou a dose recomendada do teclistamabe em injeções subcutâneas semanais de 1.5 mg por quilograma de peso corporal. Além disso, o estudo apresentou resultados promissores em 40 pacientes, com 65% de resposta parcial ou melhor. Dando continuidade, foi feito o estudo pivotal de fase I-II do MajesTEC-1, envolvendo 165 pacientes, com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança do tratamento.

Os 165 pacientes envolvidos no estudo tinham 18 anos ou mais, foram diagnosticados com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, receberam pelo menos três linhas de tratamento anteriores, incluindo um imunomodulador, um inibidor de proteassoma e um anticorpo anti-CD38, e tinham doença progressiva e mensurável. Todos os pacientes receberam doses precedentes progressivas de 0.06 e 0.3 mg por quilograma, até começarem a receber doses semanais de 1.5 mg por quilograma.

O desfecho primário analisado foi a taxa geral de resposta, definida como resposta parcial ou melhor, e os desfechos secundários foram a duração da resposta, resposta parcial muito boa ou melhor, resposta completa ou melhor, tempo até a resposta, sobrevida geral e livre de progressão e segurança, farmacocinética e imunogenicidade.

O tempo médio de tratamento até o momento da publicação foi de 8.5 meses e o tempo médio de follow up foi de 14.1 meses. Houve uma taxa de resposta de 63% (IC 95%, 55.2 – 70.4). Respostas parciais muito boas ou melhores foram vistas em 58.8% e respostas completas ou melhores foram vistas em 39.4%. O tempo médio até a primeira resposta foi de 1.2 meses e a ocorrência de doença residual mínima foi reportada em 26,7% dos pacientes (IC 95%, 20.1 – 34.1). As respostas foram duradouras e aumentadas com o tempo, tendo uma média de duração de 18.4 meses (IC 95%, 14.9 – não estimado). A duração média da sobrevida livre de progressão foi de 11.3 meses e a sobrevida geral foi de 18.3 meses.

Todos os 165 pacientes apresentaram efeitos adversos, sendo 94,5% de grau 3 ou 4. Os efeitos adversos mais comuns foram hematológicos, mas também foram observados eventos não hematológicos, como infecções. A síndrome de liberação de citocinas e a neurotoxicidade também foram observadas, porém de maneira mais branda em relação à terapia CAR-T.

Destaca-se o impacto da pandemia da COVID-19 no estudo, pois de 19 pacientes que vieram a óbito, 12 foram atribuídos à infecção pelo vírus SARS-CoV-2. 

Além disso, nenhum paciente apresentou produção de anticorpos contra o teclistamabe e a taxa da proteína BCMA solúvel foi relacionada à resposta, sendo que a diminuição da proteína solúvel foi relacionada com uma melhor resposta. 

Apesar do sucesso proeminente da terapia com células CAR-T no tratamento do mieloma múltiplo, o acesso à terapia é extremamente limitado, são necessários cuidados altamente especializados e pelo menos quatro semanas de espera para a produção das células. Entretanto, especialmente no contexto de recidiva e refratariedade, são necessárias opções imediatas para o tratamento desses pacientes. O teclistamabe representa uma opção promissora, que apresentou taxas de resposta altas e profundas, indicando o potencial benefício do uso deste produto.

Referências: 

  1. Moreau P, Garfall AL, van de Donk NWCJ, et al. Teclistamab in Relapsed or Refractory Multiple Myeloma. N Engl J Med. 2022 Aug 11;387(6):495-505. 

Usmani SZ, Garfall AL, van de Donk NWCJ, et al. Teclistamab, a B-cell maturation antigen × CD3 bispecific antibody, in patients with relapsed or refractory multiple myeloma (MajesTEC-1): a multicentre, open-label, single-arm, phase 1 study. Lancet. 2021 Aug 21;398(10301):665-674.

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