Estratégia curativa para mieloma smoldering de alto risco: carfilzomibe, lenalidomida e dexametasona (KRd) seguido por transplante, consolidação e manutenção
Estudo avaliou a possibilidade de terapia precoce em mieloma múltiplo smoldering de alto risco, mostrando resultados promissores e um novo modo de enxergar essa patologia.
Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima
O mieloma múltiplo smoldering (SMM) é uma doença assintomática gerada por um distúrbio de células plasmocitárias caracterizado pela presença de um componente M sérico de pelo menos 3 g/dL ou uma infiltração plasmocitária de medula óssea ≥10% com ausência de lesões orgânicas relacionadas ao mieloma.
Estudos cada vez mais vêm avaliando o possível benefício no tratamento precoce de pacientes com SMM de alto risco, com o intuito de reduzir a incidência de lesões orgânicas graves. Foi demonstrado que o tratamento precoce do mieloma smoldering de alto risco atrasa ainda sua progressão para mieloma múltiplo (MM) sintomático. Foi então, conduzido um ensaio com intenção curativa usando uma abordagem de tratamento empregada para pacientes recém-diagnosticados com MM.
Pacientes com SMM de alto risco (> 50% de risco de progressão em 2 anos) e candidatos a transplante autólogo foram incluídos e receberam terapia de indução com 6 ciclos de carfilzomibe, lenalidomida e dexametasona (KRd), seguido por transplante autólogo de células-tronco em altas doses utilizando o regime de condicionamento melfalano (200 mg/m2) (TMOa), dois ciclos de consolidação KRd e manutenção Rd por 2 anos. O desfecho primário analisado foi doença residual mensurável indetectável (DRM negativa) por metologia de fluxo de nova geração de após ASCT. DRM negativa sustentada 4 anos depois do TMOa foi o desfecho secundário.
Entre junho de 2015 e junho de 2017, foram incluídos 90 pacientes, e 31% atenderam pelo menos um critério para mieloma múltiplo pelo SixtyLightchain MRI (SLiM) – hipercalcemia, insuficiência renal, anemia, doença óssea (CRAB). Após um acompanhamento mediano de 70,1 meses, 3 meses após o TMOa, na população com intenção de tratar, 56 (62%) de 90 pacientes tinham DRM negativa e, 4 anos depois, ela foi mantida em 29 pacientes (31%). Cinco pacientes evoluíram para MM, e a taxa de progressão em 70 meses foi de 94% (IC 95%, 84 a 89). A presença de qualquer critério SLiM CRAB previram progressão para MM (quatro dos cinco pacientes; taxa de risco, 0,12; 95% IC, 0,14 a 1,13; P 5.03).
Trinta e seis pacientes apresentaram progressão bioquímica e a falha em atingir DRM negativa no final do tratamento conseguiu prever isso. A sobrevida global em 70 meses foi de 92% (IC 95%, 82 a 89). Neutropenia e infecções foram os eventos adversos mais frequentes durante o tratamento, resultando em uma morte relacionada ao tratamento. Três segundas malignidades primárias foram relatadas.
Os autores concluem que, embora seja necessário um acompanhamento mais longo, esta abordagem curativa é encorajadora e mais eficaz que o tratamento do MM ativo, com 31% dos pacientes mantendo a DRM negativa 4 anos após TMOa. Um período de acompanhamento mais extenso é necessário para determinar com precisão a taxa de cura 10 anos após a conclusão da terapia.
Esse tema ainda demanda maiores investigações, dado que é muito polêmico e questionável o tratamento de um paciente com doença assintomática, quando não há certeza da progressão para MM sintomático.
Referência:
- Mateos, M. V., Martínez-López, J., Rodriguez Otero, P., González-Calle, V., Gonzalez, M. S., Oriol, A., Gutiérrez, N. C., Ríos-Tamayo, R., Rosiñol, L., Alvarez Rivas, M. A., Bargay, J., Gonzalez-Rodriguez, A. P., Alegre, A., Escalante, F., Iñigo Rodríguez, M. B., De La Rubia, J., Teruel, A. I., de Arriba, F., Palomera, L., Hernández, M. T., … Spanish Myeloma Group (GEM-Pethema) (2024). Curative Strategy for High-Risk Smoldering Myeloma: Carfilzomib, Lenalidomide, and Dexamethasone (KRd) Followed by Transplant, KRd Consolidation, and Rd Maintenance. Journal of clinical oncology: official journal of the American Society of Clinical Oncology, JCO2302771. Advance online publication. https://doi.org/10.1200/JCO.23.02771