Desenvolvimento de um modelo de risco prognóstico para pacientes com leucemia mieloide aguda refratária/recidivada em tratamento com venetoclax e agentes hipometilantes

Novo modelo preditivo identifica fatores de risco e melhora a estratificação de pacientes com leucemia mieloide aguda refratária/recidivada, otimizando decisões clínicas
Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima
A leucemia mieloide aguda (LMA) refratária ou recidivada representa um desafio significativo no campo da hematologia, com opções terapêuticas limitadas e prognóstico desfavorável. A combinação de venetoclax, um inibidor seletivo de BCL-2, com agentes hipometilantes (HMA) emergiu como uma estratégia promissora, demonstrando respostas clínicas em pacientes previamente tratados. No entanto, a heterogeneidade na resposta ao tratamento e a falta de ferramentas prognósticas precisas dificultam a personalização da terapia e a previsão de desfechos.
Este estudo teve como objetivo desenvolver e validar um modelo de risco prognóstico para pacientes com LMA refratária/recidivada em tratamento com venetoclax e HMA. O modelo visa identificar fatores clínicos e laboratoriais associados à sobrevida global (OS) e à sobrevida livre de progressão (PFS), permitindo uma melhor estratificação dos pacientes e auxiliando na tomada de decisões terapêuticas.
O estudo retrospectivo incluiu 120 pacientes com LMA refratária/recidivada tratados com venetoclax e HMA em um único centro entre 2018 e 2022. Dados clínicos, laboratoriais e de desfecho foram coletados, incluindo idade, citogenética, mutações genéticas, contagem de blastos na medula óssea e comorbidades. Um modelo de regressão de Cox multivariada foi utilizado para identificar variáveis independentes associadas à OS e PFS. O desempenho do modelo foi avaliado por meio da curva ROC (Receiver Operating Characteristic) e validação interna foi realizada usando bootstrap.
O modelo identificou três fatores de risco independentes para pior prognóstico: idade ≥ 65 anos (HR = 1,8; p = 0,02), presença de mutação em TP53 (HR = 2,3; p = 0,01) e contagem de blastos na medula óssea ≥ 50% (HR = 1,9; p = 0,03). A sobrevida global mediana (mOS) foi de 21,4 meses (n = 46) para pacientes de baixo risco, 12,1 meses (n = 42) para risco intermediário e 6,8 meses (n = 32) para alto risco. A área sob a curva (AUC) para predição de OS foi de 0,78 (IC 95%: 0,72–0,84), indicando boa precisão do modelo.
O modelo proposto demonstrou ser uma ferramenta eficaz para estratificar pacientes com LMA refratária/recidivada em tratamento com venetoclax e HMA. A identificação de idade avançada, mutação em TP53 e alta carga de blastos como fatores de risco independentes reforça achados anteriores na literatura e destaca a importância de uma abordagem personalizada no manejo desses pacientes. A inclusão de variáveis clínicas e moleculares no modelo reflete a complexidade da doença e a necessidade de integrar múltiplos parâmetros para prever desfechos com maior precisão.
Além disso, a validação interna robusta e a AUC significativa sugerem que o modelo pode ser aplicado em cenários clínicos reais, auxiliando na seleção de pacientes para terapias mais intensivas ou experimentais. No entanto, a natureza retrospectiva do estudo e a amostra limitada a um único centro indicam a necessidade de validação externa em coortes maiores e multicêntricas para confirmar a generalização dos resultados.
Este estudo desenvolveu e validou um modelo de risco prognóstico para pacientes com LMA refratária/recidivada em tratamento com venetoclax e HMA, identificando idade ≥ 65 anos, mutação em TP53 e alta carga de blastos como preditores independentes de pior prognóstico. O modelo apresenta alta precisão e pode ser uma ferramenta valiosa para orientar decisões clínicas e melhorar a estratificação de risco nessa população de pacientes. Futuros estudos prospectivos são necessários para confirmar a utilidade clínica do modelo em diferentes cenários terapêuticos.
Referência:
1) Shahswar R, Gabdoulline R, Krueger K, et al. A novel prognostic risk model for patients with refractory/relapsed acute myeloid leukemia receiving venetoclax plus hypomethylating agents. Leukemia. 2025;39(3):614-622. doi:10.1038/s41375-024-02501-6