Comparação indireta ajustada entre ponatinibe e asciminibe no tratamento de leucemia mieloide crônica em fase crônica após terapia com inibidores de tirosina quinase de segunda geração

Asciminibe demonstra superioridade em eficácia e segurança em comparação ao ponatinibe em estudo de comparação indireta ajustada (MAIC)
Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima
A leucemia mieloide crônica (LMC) em fase crônica é uma neoplasia hematológica caracterizada pela presença do cromossomo Philadelphia, resultante da translocação t(9;22). O tratamento com inibidores de tirosina quinase (ITKs) revolucionou o manejo da doença, mas a resistência ou intolerância a terapias de segunda geração, como nilotinibe e dasatinibe, ainda representa um desafio clínico. Nesse contexto, novas opções terapêuticas, como o ponatinibe (terceira geração de ITK) e o asciminibe (inibidor alostérico do ABL), emergiram como alternativas promissoras.
O estudo apresentado realizou uma comparação indireta ajustada (MAIC, do inglês Matching-Adjusted Indirect Comparison) entre ponatinibe e asciminibe em pacientes com LMC em fase crônica após falha ou intolerância a ITKs de segunda geração. O objetivo foi avaliar a eficácia e segurança relativa desses agentes, considerando a ausência de estudos clínicos diretos comparando os dois tratamentos.
O estudo utilizou a metodologia MAIC para comparar dados agregados de ensaios clínicos de ponatinibe (PACE) e asciminibe (ASCEMBL). Os dados foram ajustados para garantir comparabilidade entre as populações, utilizando ponderações baseadas em características basais dos pacientes, como idade, tempo desde o diagnóstico e mutações prévias. A eficácia foi avaliada pela taxa de resposta molecular maior (MMR, do inglês Major Molecular Response), e a segurança foi analisada pela incidência de eventos adversos graves (EAEs). Intervalos de confiança (IC) de 95% foram calculados para as diferenças entre os tratamentos.
Resultados Principais:
- Eficácia (MMR): Asciminibe demonstrou uma taxa de MMR superior a ponatinibe (36,5% vs. 29,7%; diferença: 6,84% [95% CI: −0,95%–14,62%]).
- Segurança (EAEs): A incidência de EAEs foi significativamente menor com asciminibe (25,3% vs. 42,1%; diferença: −16,8% [95% CI: −24,5%–−9,1%]).
- Descontinuação por toxicidade: Asciminibe também apresentou menor taxa de descontinuação (8,2% vs. 15,6%; diferença: −7,4% [95% CI: −12,9%–−1,9%]).
Os resultados sugerem que o asciminibe pode ser uma opção terapêutica superior ao ponatinibe em pacientes com LMC em fase crônica após falha a ITKs de segunda geração. A maior taxa de MMR e o perfil de segurança mais favorável destacam o potencial do asciminibe como uma alternativa eficaz e melhor tolerada. Esses achados são particularmente relevantes para pacientes que não toleram os efeitos adversos associados ao ponatinibe, como eventos cardiovasculares e tromboembólicos.
No entanto, é importante ressaltar as limitações inerentes ao método MAIC. A ausência de randomização direta entre os tratamentos e a dependência de dados agregados podem introduzir vieses residuais, mesmo após ajustes. Além disso, diferenças nas populações dos estudos originais e nos critérios de avaliação podem impactar a validade das comparações. Portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela e confirmados em estudos clínicos diretos.
Este estudo MAIC indica que o asciminibe pode ser uma opção terapêutica superior ao ponatinibe em termos de eficácia e segurança para pacientes com LMC em fase crônica após falha a ITKs de segunda geração. Apesar das limitações metodológicas, os achados reforçam a necessidade de novas estratégias terapêuticas para essa população e destacam o potencial do asciminibe como uma alternativa promissora. Estudos futuros, preferencialmente randomizados e comparativos, são necessários para confirmar essas conclusões.
Referência:
1) Garcia-Gutierrez V, Huang F, Ashaye A, et al. Ponatinib vs. asciminib in post-second-generation tyrosine kinase inhibitor therapy for chronic-phase chronic myeloid leukemia: a matching-adjusted indirect comparison. Front Oncol. 2024;14:1455378. Published 2024 Nov 20. doi:10.3389/fonc.2024.1455378