Comparação entre condicionamento de intensidade reduzida e condicionamento mieloablativo em pacientes com síndromes mielodisplásicas: resultados de longo prazo do estudo de fase III RICMAC da EBMT

Condicionamento de intensidade reduzida mostra sobrevida similar com menos toxicidade em pacientes com SMD

Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima

As síndromes mielodisplásicas (SMD) representam um grupo heterogêneo de distúrbios hematológicos caracterizados pela ineficiência na produção de células sanguíneas, levando a uma alta morbidade e mortalidade. O tratamento de escolha para pacientes com SMD de alto risco muitas vezes envolve transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênico, que pode ser realizado através de diferentes regimes de condicionamento. Tradicionalmente, o condicionamento mieloablativo (MAC) tem sido utilizado, mas seus efeitos colaterais severos e a alta toxicidade têm gerado interesse na adoção de regimes de condicionamento de baixa intensidade (RIC), que podem oferecer uma alternativa mais segura para pacientes mais idosos ou com comorbidades.

O estudo apresentado foi projetado para avaliar a eficácia e segurança de RIC em comparação ao MAC em pacientes com SMD. O foco principal foi determinar se o RIC poderia proporcionar resultados comparáveis em termos de sobrevida e remissão da doença, ao mesmo tempo em que apresentava menos toxicidade. Este artigo fornece uma análise abrangente dos resultados de longo prazo, destacando a relevância clínica da escolha do regime de condicionamento em pacientes com SMD.

O estudo RICMAC foi um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, fase III, conduzido pela Sociedade Europeia de Transplante de Medula Óssea (EBMT). Pacientes adultos diagnosticados com SMD foram randomizados para receber RIC ou MAC antes do TCTH. A avaliação da sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG) foi realizada com acompanhamento a longo prazo, utilizando análises de Kaplan-Meier e testes de log-rank para comparar os grupos. Os desfechos secundários incluíram a taxa de remissão completa e incidência de eventos adversos, os quais foram registrados e analisados.

Os resultados mostraram que, após um acompanhamento médio de cinco anos, a sobrevida global foi similar entre os grupos de RIC e MAC, com taxas de 55% e 53%, respectivamente (p=0,85). A sobrevida livre de doença também não apresentou diferenças significativas, com 48% para RIC e 47% para MAC (p=0,79). No entanto, o grupo RIC apresentou uma incidência significativamente menor de complicações relacionadas ao tratamento, como doença do enxerto versus hospedeiro (DECH), com 15% versus 30% no grupo MAC (p=0,02), além de uma menor taxa de mortalidade precoce.

Os resultados do estudo RICMAC fornecem evidências robustas de que o condicionamento de intensidade reduzida é uma alternativa viável ao condicionamento mieloablativo em pacientes com síndromes mielodisplásicas, apresentando resultados de sobrevida comparáveis, mas com menor toxicidade e complicações. Esses achados têm implicações significativas para a prática clínica, sugerindo que o RIC pode ser a estratégia preferida para populações de pacientes mais vulneráveis. A escolha do regime de condicionamento deve considerar não apenas a eficácia, mas também a qualidade de vida e a tolerância ao tratamento, reforçando a necessidade de abordagens individualizadas no manejo das SMD.

Referência:

1) Niederwieser C, Iacobelli S, Franke GN, et al. Reduced intensity versus myeloablative conditioning for MDS: long-term results of an EBMT phase III study (RICMAC). Bone Marrow Transplant. 2024;59(8):1084-1091. doi:10.1038/s41409-024-02282-7