Nivolumabe-AVD no linfoma de Hodgkin clássico com estadiamento avançado – um novo padrão-ouro de tratamento?

Estudo randomizado de fase 3 mostrou superioridade de eficácia e tolerância do protocolo experimental que utilizou o inibidor de checkpoint Nivolumab em associação com AVD quando comparado com o padrão Bv-AVD
Poliquimioterapia tem sido o tratamento padrão do linfoma de Hodgkin clássico em estágio avançado (LHC) há décadas. A incorporação do anticorpo-conjugado direcionado a CD30, brentuximabe vedotina (BV) no tratamento de LHc com estadiamento avançado promoveu melhores resultados clínicos. No entanto, as recidivas após o tratamento permanecem problemáticas. O protocolo BV-AVD, atualmente considerado padrão ouro em muitos serviços de Oncohematologia, é mais tóxico que o clássico ABVD em adultos, e 53% dos pacientes pediátricos ainda recebem radioterapia com terapia baseada em BV.
O bloqueio de PD-1 (Programmed death receptor 1) já se mostrou um tratamento seguro e eficaz no LHc recidivado/refratário, e altas taxas de resposta e remissões duradouras são observadas após o bloqueio de PD-1 em LHc não tratado. Desse modo, surgiu a necessidade da realização de um grande estudo clínico randomizado utilizando-se essa classe terapêutica em primeira linha no LHc.
Um ensaio clínico aberto, multicêntrico, de fase 3, randomizado, foi conduzido em pacientes ≥ 12 anos de idade com LHc com estadiamento III ou IV recém-diagnosticados. Os pacientes foram randomizados para receber 6 ciclos de BV ou nivolumabe (Nivo) com doxorrubicina, vinblastina e dacarbazina (AVD) numa proporção de 1:1. Pacientes pré-especificados poderiam receber radioterapia para lesões residuais metabolicamente ativas. O objetivo principal do estudo foi comparar a sobrevida livre de progressão (PFS) entre os braços.
970 pacientes foram elegíveis ao estudo. É então apresentada aqui a segunda análise interina planejada com acompanhamento mediano de 12,1 meses. Nesta análise o limiar de eficácia foi alcançado, indicando que Nivo-AVD melhorou a sobrevida livre de progressão em comparação com BV-AVD (hazard ratio [HR] para progressão ou morte 0,48, 99% IC 0,27–0,87, p<0,001 bilateral) (Figura 1).
Figura 1: sobrevida livre de progressão (PFS)
Devido ao curto período de seguimento, foi então repetida a análise com seguimento mais longo; com um acompanhamento mediano de 2,1 anos (variação de 0 a 4,2 anos), a PFS em 2 anos foi de 92% (IC 95%, 89% -94%) após N-AVD em comparação com 83% (95 IC% 79%-86%) após BV-AVD (HR 0,45; IC95% 0,3-0,65). Sete pacientes receberam radiação no estudo. Os eventos adversos relacionados com o sistema imune foram pouco frequentes com nivolumab; o uso de BV foi associada a maior número de descontinuações do tratamento.
Os autores do estudo concluem que o uso de Nivolumabe melhorou a eficácia e foi mais bem tolerado em comparação ao BV quando combinado com AVD em LHc com estadiamento III-IV em adolescentes e adultos. Estes achados podem significar o aparecimento de um novo padrão-ouro no tratamento do LHc com estadiamento avançado.
Referência:
1) Herrera AF, LeBlanc M, Castellino SM, et al. Nivolumab+AVD in Advanced-Stage Classic Hodgkin’s Lymphoma. N Engl J Med. 2024;391(15):1379-1389. doi:10.1056/NEJMoa2405888