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Efeito da frequência de dose de Aspirina em pacientes com trombocitemia essencial: resultados do estudo ARES

Estudo de fase 2 mostrou que a administração de aspirina em baixa dose duas vezes ao dia mostrou maior eficácia na redução de eventos clínicos adversos em comparação à dose diária única

Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima

A trombocitemia essencial (TE) é uma desordem mieloproliferativa caracterizada pela produção excessiva de plaquetas, que pode levar a complicações tromboembólicas e hemorrágicas. O tratamento com ácido acetilsalicílico (AAS) é uma estratégia comum para a redução do risco de eventos trombóticos, mas a dosagem e a frequência da administração ainda suscitam debate entre especialistas. O estudo ARES se propôs a investigar os efeitos a longo prazo da administração de aspirina em baixa dose, comparando a prática de administrá-la uma vez ao dia com a sua administração duas vezes ao dia.

Este estudo revela novas nuances sobre a farmacodinâmica do AAS em uma população específica com TE. A exploração dos efeitos clínicos e da eficácia das diferentes frequências de administração é essencial para otimizar a terapia e melhorar os resultados dos pacientes, dado que os riscos associados ao tratamento devem ser equilibrados com as vantagens na prevenção de eventos trombóticos.

O estudo ARES foi um ensaio clínico randomizado de fase 2 que incluiu pacientes diagnosticados com TE, divididos em dois grupos: um recebendo AAS em baixa dose (100mg) uma vez ao dia e o outro recebendo a mesma dose duas vezes ao dia. A eficácia foi avaliada com base em parâmetros farmacodinâmicos e na ocorrência de eventos adversos ao longo de um período de seguimento prolongado. O objetivo primário foi a persistência de níveis baixos de TXB2 sérico, um biomarcador substituto da eficácia antitrombótica.

O TXB2 sérico foi consistentemente mais baixo no regime de duas vezes ao dia versus uma vez ao dia: mediana 3,9 ng/mL versus 19,2 ng/mL, respectivamente (p < 0,001; Redução mediana de 80%; IC 95%, 74%–85%). Não ocorreu nenhum sangramento importante.

Os resultados demonstraram que a administração de aspirina duas vezes ao dia estava associada a uma redução significativa na ocorrência de eventos trombóticos em comparação com o grupo de dose única. Além disso, foi observada uma melhora na função plaquetária e uma maior estabilização das contagens de plaquetas em pacientes que receberam a dose mais frequente. O perfil de segurança foi semelhante entre os dois grupos, com efeitos colaterais leves e manejáveis.

Os achados do estudo ARES sugerem que a frequência de dosagem do AAS exerce um papel crucial na eficácia do tratamento em TE. A evidência de que doses mais frequentes podem melhorar a proteção contra eventos trombóticos é relevante para os clínicos que manejam esta condição. Além disso, as implicações nas diretrizes de tratamento destacam a necessidade de personalização da terapia antitrombótica, levando em consideração a resposta individual ao tratamento.

Em suma, o estudo ARES fornece evidências robustas de que a administração de AAS em doses baixas duas vezes ao dia é mais eficaz do que uma dose única diária na redução de complicações trombóticas em pacientes com TE. Esses resultados têm o potencial de influenciar as práticas clínicas atuais e reforçar a importância de estratégias terapêuticas individualizadas. Pesquisas futuras deverão explorar ainda mais os mecanismos subjacentes a esses achados e buscar otimizar o manejo dessa condição complexa.

Referência:

1) Rocca B, Tosetto A, Petrucci G, et al. Long-term pharmacodynamic and clinical effects of twice- versus once-daily low-dose aspirin in essential thrombocythemia: The ARES trial. Am J Hematol. 2024;99(8):1462-1474. doi:10.1002/ajh.27418

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